Pois é.

Há um jeito brasileiro que me aterroriza. O deboche, a grossura, o preconceito.

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Me deixa Ser.

(Autoria própria)



Você não me deixa ser. Tens a cruel – sim, cruel, porque fere – ilusão de que podes controlar as coisas, as pessoas, os sentimentos. E de tanto deixar isso à sua frente tudo acaba se tornando verdade, e não mais ilusão. Por mais que eu tente fazer de tudo isso só uma complicação do destino, eu tenho medo de que realmente não tenha nada além disso. Tenho medo de que você não seja mais nada além de uma pessoa com medo de se relacionar, com o medo de dar a alguém o poder de fazer parte da tua felicidade. E que então eu estaria numa procura inútil. Será que você não é só o fruto da minha necessidade de ter sempre alguém pra cuidar? Será que eu não te coloco nas costas um peso de ser algo maior do que você pode ser? Sim, porque ninguém é feito do que é, é feito do que é e do que pode ser. Havia tantas possibilidades. Você poderia ser tantas coisas mas quis se tornar essa coisa pequena, foi se diminuindo a tal ponto de me fazer desistir de ir além, principalmente quando vem e me diz que não quer alguém que te ameace os planos. E de que é feita a vida, além de pessoas que nos faça mudar os planos? Eu não estou pedindo pra que você mude os seus, porque eu mudaria os meus por você. Aliás, nem planos eu tenho. Ainda não tive tempo de dar diretriz pra minha vida, estou deixando ela cuidar disso sozinha. Mas se você me perguntasse se eu queria fazer dos seus planos os meus, eu diria que sim. Mas você não disse, como sempre, você nunca diz nada. Que sede é essa que você tem de se sentir independente, de dizer pro amor “olha aí, babaca, não preciso de você, me viro sozinha!”? Tu não vai encontrar alguém que queira o que você quer. Porque é inevitável dar o corpo a alguém e não querer que esse alguém fique.  Você não quis que eu ficasse. E hoje eu também não sei se quero que você fique. Perceba que eu ainda não sei. Com tantos motivos pra eu não querer mais sequer pensar em qualquer possibilidade, eu ainda enxergo inúmeros caminhos. E por que você fica mal de me ver mal? Por que você não suporta me ver triste se sabe que antes da minha tristeza havia alegria e foi você quem mudou isso? Por que você não pensou nas conseqüências antes, e não agora, depois do ato? Eu coloco minha mão no rosto pra você não ver que nele emana tudo o que eu poderia viver contigo e que você não deixa, que você não permite. Você não me deixa ser. E eu fico aqui, enclausurada dentro de uma capa protetora que você criou sem ter o cuidado de me perguntar se eu queria ficar nela. Eu te falei que talvez pela primeira vez alguém estava cuidando de mim. E se eu te dissesse agora que preferia não ser cuidada por você? Que eu prefiro ser amada ao invés de cuidada? Você deve estar pensando “mas as duas coisas não se dissociam”. Às vezes, sim. E eu correria o risco por você.


(03.11.2010)

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