Pois é.

Há um jeito brasileiro que me aterroriza. O deboche, a grossura, o preconceito.

sábado, 6 de agosto de 2011

O poder de uma decisão.

“No momento em que realmente nos decidimos, então o universo começa a agir também. Todo tipo de coisa começa a ocorrer, coisas que não ocorreriam  normalmente, mas que acontecem porque você tomou a decisão. Uma série de eventos flui dessa decisão, levantando a nosso favor todo tipo de imprevistos, encontros e assistência material que nenhuma pessoa no mundo poderia planejar que ocorresse na sua vida. Seja lá o que você possa fazer, ou tenha o sonho de fazer: comece. O arrojo tem dentro de si inteligência, poder e mágica."

Os cavalos brancos de Napoleão.

"A princípio os cavalos eram mansos. Inofensivos como moças antigas fazendo seu footing na tarde de domingo. Foi só depois de certa convivência, ganhando intimidade, que começaram a tornar-se perigosos, passando da mansidão à secura e da secura à agressividade. Quando isso aconteceu, já tudo estava perdido. Na verdade talvez estivesse desde sempre, pois convenhamos, ver cavalos, e ainda por cima brancos - não é muito normal. E quem sabe a doçura do início fosse apenas um estratagema: se de imediato os cavalos tivessem se mostrado como realmente eram, é provável que Napoleão não os recebesse."

As 5 emoções naturais.



Trecho do livro 'Conversando com Deus - Um Diálogo Incomum -  Volume III"
de Neale Donald Walsch baseado no trabalho da Dra. Elisabeth Kübler-Ross.

"O pesar é uma emoção natural. É a parte de você que lhe permite dizer adeus quando não deseja fazer isso; expressar - por para fora - a tristeza em seu íntimo causada pela experiência de qualquer tipo de perda. Poderia ser de um ente querido, ou uma lente de contato.
Quando você pode expressar seu pesar, livra-se dele. As crianças a quem é permitido ficar tristes quando estão tristes, lidam muito bem com a tristeza quando se tornam adultas e por isso costumam superá-la muito rapidamente.
As crianças a quem é dito "não chore" têm muita dificuldade em chorar quando se tornam adultas. Afinal de contas, disseram-lhes durante suas vidas inteiras para não chorarem. Por isso, reprimem o seu pesar.
O pesar constantemente reprimido se transforma em depressão crônica, uma emoção muito antinatural.
Devido à depressão crônica, pessoas matam, guerras começam e nações se tornam decadentes.

A raiva é uma emoção natural. É a ferramenta que lhe permite dizer "não, obrigado". Não tem de ser abusiva e nunca deve prejudicar outra pessoa.
Quando é permitido às crianças expressarem sua raiva, elas passam a ter uma atitude muito sadia em relação à raiva quando se tornam adultas e por isso costumam superá-la muito rapidamente.
As crianças que acham que é errado expressar a sua raiva, e que de fato nunca deveriam sentí-la, terão dificuldade em lidar adequadamente com sua raiva quando se tornarem adultas.
A raiva constantemente reprimida se transforma em ódio, uma emoção muito antinatural.
Devido ao ódio, pessoas matam, guerras começam e nações se tornam decadentes.

A inveja é uma emoção natural. É a emoção que faz um menino de cinco anos querer alcançar a maçaneta da porta como sua irmã - ou andar de bicicleta. A inveja é a emoção natural que o faz desejar fazer uma coisa de novo; tentar ainda mais; continuar tentando , até ser bem sucedido. É muito sadio e natural ser invejoso. Quando é permitido às crianças expressar sua inveja, elas passam a ter uma atitude muito sadia em relação à inveja quando se tornam adultas e por isso costumam superá-la muito rapidamente.
As crianças que acham que é errado expressar sua inveja, e que de fato nunca deveriam senti-la, terão dificuldade em lidar adequadamente com sua inveja quando se tornarem adultos.
A inveja constantemente reprimida se transforma em ciúme, uma emoção muito antinatural.
Devido ao ciúme, pessoas matam, guerras começam e nações se tornam decadentes.
 
O medo é uma emoção natural. Todos os bebês nascem com dois medos: o de cair e o de sons altos. Todos os outros medos são reações que aprendem a ter em seu ambiente, com seus pais. o objetivo do medo natural é produzir um pouco de cautela. A cautela é uma ferramenta que ajuda o corpo a viver. É uma conseqüência do amor. Do amor por si mesmo.
As crianças que acham que é errado expressar seu medo, e que de fato nunca deveriam senti-lo, terão dificuldade em lidar adequadamente com seu medo quando se tornarem adultas.
O medo constantemente reprimido se transforma em pânico, uma emoção muito antinatural.
Devido ao pânico, pessoas matam, guerras começam e nações se tornam decadentes.
 
O amor é uma emoção natural. Quando uma criança pode expressá-lo e recebê-lo naturalmente, sem limites ou condições, inibições ou constrangimentos, não é preciso mais nada. Porque a alegria do amor expressado e recebido dessa forma é suficiente. Contudo, o amor sujeito a condições, limites, regras, rituais e restrições, controlado, manipulado e contido, torna-se antinatural.
As crianças que acham que é errado expressar o seu amor, e que de fato nunca deveriam senti-lo, terão dificuldade de lidar adequadamente com o amor quando se tornarem adultas.
O amor constantemente reprimido se transforma em possessividade, uma emoção muito antinatural.
Devido à possessividade, pessoas matam, guerras começam e nações se  tornam decadentes.
Portanto, as emoções naturais, quando reprimidas, produzem reações antinaturais. E, na maioria das pessoas, a maioria das emoções naturais é reprimida. Contudo, essas emoções são aliadas. São dádivas.Suas ferramentas divinas com as quais você constrói a sua experiência.

Você recebe essas ferramentas no nascimento. Elas o ajudam a cuidar de sua vida."  

quarta-feira, 4 de maio de 2011

Não respire. Inspire.


“Depois ela permanece deitada, aninhada contra mim, o cabelo me fazendo cócegas no rosto. Eu a acaricio ligeiramente, gravando seu corpo na memória. Quero me derreter dentro dela, como manteiga numa torrada. Quero absorvê-la e andar por aí pelo resto dos meus dias com ela incrustada em minha pele. Eu quero. Fico deitado imóvel, saboreando a sensação do seu corpo contra o meu. Tenho medo de respirar e quebrar o encanto.”

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Lembre-se: abra a janela primeiro.

(Autoria própria)


Sabe quando você fica tentando achar que alguém só está fazendo coisas duras e feias pra o teu próprio bem? Pra te convencer - de uma forma horrível - que realmente não é pra vocês ficarem juntos? Expor o lado feio também é uma forma de afastar as pessoas. Você tem medo de mostrar seu lado bonito. Tem medo de que eu não saiba a hora de parar de beber da tua fonte e que eu queira me perpetuar nas linhas dessa fugacidade anunciada por você. E tem medo, principalmente, de que essa fugacidade se perca no tempo. Dessa forma paradoxal mesmo. O tempo iria passar, passar, passar, e eu iria ficar, ficar, ficar, e você iria perder, perder, perder a ideia de fim. Você foi fraca por sua culpa e por minha culpa também. Eu não te deixei ter o principal motivo de querer que alguém fique: o mistério. O erro foi esse. Eu me despi diante de ti e quis que você se deleitasse inteira sobre mim sem pensar em joguinhos, em charminhos. Quis abrir a porta e deixar que você entrasse e se enfiasse em todos os cômodos. Ver você saindo por ela me deixou com a sensação de que talvez eu devesse abrir a janela primeiro. Agora eu já sei como se faz. Ou não.

Me deixa Ser.

(Autoria própria)



Você não me deixa ser. Tens a cruel – sim, cruel, porque fere – ilusão de que podes controlar as coisas, as pessoas, os sentimentos. E de tanto deixar isso à sua frente tudo acaba se tornando verdade, e não mais ilusão. Por mais que eu tente fazer de tudo isso só uma complicação do destino, eu tenho medo de que realmente não tenha nada além disso. Tenho medo de que você não seja mais nada além de uma pessoa com medo de se relacionar, com o medo de dar a alguém o poder de fazer parte da tua felicidade. E que então eu estaria numa procura inútil. Será que você não é só o fruto da minha necessidade de ter sempre alguém pra cuidar? Será que eu não te coloco nas costas um peso de ser algo maior do que você pode ser? Sim, porque ninguém é feito do que é, é feito do que é e do que pode ser. Havia tantas possibilidades. Você poderia ser tantas coisas mas quis se tornar essa coisa pequena, foi se diminuindo a tal ponto de me fazer desistir de ir além, principalmente quando vem e me diz que não quer alguém que te ameace os planos. E de que é feita a vida, além de pessoas que nos faça mudar os planos? Eu não estou pedindo pra que você mude os seus, porque eu mudaria os meus por você. Aliás, nem planos eu tenho. Ainda não tive tempo de dar diretriz pra minha vida, estou deixando ela cuidar disso sozinha. Mas se você me perguntasse se eu queria fazer dos seus planos os meus, eu diria que sim. Mas você não disse, como sempre, você nunca diz nada. Que sede é essa que você tem de se sentir independente, de dizer pro amor “olha aí, babaca, não preciso de você, me viro sozinha!”? Tu não vai encontrar alguém que queira o que você quer. Porque é inevitável dar o corpo a alguém e não querer que esse alguém fique.  Você não quis que eu ficasse. E hoje eu também não sei se quero que você fique. Perceba que eu ainda não sei. Com tantos motivos pra eu não querer mais sequer pensar em qualquer possibilidade, eu ainda enxergo inúmeros caminhos. E por que você fica mal de me ver mal? Por que você não suporta me ver triste se sabe que antes da minha tristeza havia alegria e foi você quem mudou isso? Por que você não pensou nas conseqüências antes, e não agora, depois do ato? Eu coloco minha mão no rosto pra você não ver que nele emana tudo o que eu poderia viver contigo e que você não deixa, que você não permite. Você não me deixa ser. E eu fico aqui, enclausurada dentro de uma capa protetora que você criou sem ter o cuidado de me perguntar se eu queria ficar nela. Eu te falei que talvez pela primeira vez alguém estava cuidando de mim. E se eu te dissesse agora que preferia não ser cuidada por você? Que eu prefiro ser amada ao invés de cuidada? Você deve estar pensando “mas as duas coisas não se dissociam”. Às vezes, sim. E eu correria o risco por você.


(03.11.2010)

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Quando O Próprio Amor Vacila

Eu sei que atrás deste universo de aparências,
das diferenças todas,
a esperança é preservada.

Nas xícaras sujas de ontem
o café de cada manhã é servido.
Mas existe uma palavra que não suporto ouvir,
e dela não me conformo.

Eu acredito em tudo,
mas eu quero você agora.

Eu te amo pelas tuas faltas,
pelo teu corpo marcado,
pelas tuas cicatrizes,
pelas tuas loucuras todas, minha vida.

Eu amo as tuas mãos,
mesmo que por causa delas
eu não saiba o que fazer das minhas.

Amo teu jogo triste.

As tuas roupas sujas
é aqui em casa que eu lavo.

Eu amo a tua alegria.

Mesmo fora de si,
eu te amo pela tua essência.
Até pelo que você poderia ter sido,
se a maré das circunstâncias
não tivesse te banhado
nas águas do equívoco.

Eu te amo nas horas infernais
e na vida sem tempo, quando,
sozinha, bordo mais uma toalha
de fim de semana.

Eu te amo pelas crianças e futuras rugas.

Eu te amo pelas tuas ilusões perdidas
e pelos teus sonhos inúteis.

Amo teu sistema de vida e morte.

Eu te amo pelo que se repete
e que nunca é igual.

Eu te amo pelas tuas entradas,
saídas e bandeiras.

Eu te amo desde os teus pés
até o que te escapa.

Eu te amo de alma para alma.
E mais que as palavras,
ainda que seja através delas
que eu me defenda,
quando digo que te amo
mais que o silêncio dos momentos difíceis,
quando o próprio amor
vacila. 

Fragmentos.


Coisas lindas de pessoas lindas. =)
-

“Quero apenas cinco coisas…
Primeiro é o amor sem fim 
A segunda é ver o outono 
A terceira é o grave inverno 
Em quarto lugar o verão 
A quinta coisa são teus olhos 
Não quero dormir sem teus olhos 
Não quero ser… sem que me olhes
Abro mão da primavera para que continues me olhando.”
Pablo Neruda.

-
“Ele estava apaixonado por ela. Perdidamente. O problema - um dos problemas, porque havia outros, bem mais graves -, o problema inicial, pelo menos, é que era cedo demais.”

 "Atrás das janelas, retomo esse momento de mel e sangue que Deus colocou tão rápido, e com tanta delicadeza, frente aos meus olhos há tanto tempo incapazes de ver: uma possibilidade de amor. Curvo a cabeça, agradecido. E se estendo a mão, no meio da poeira de dentro de mim, posso tocar também em outra coisa. Essa pequena epifania. Com corpo e face. Que reponho devagar, traço a traço, quando estou só e tenho medo. Sorrio, então. E quase paro de 
sentir fome." 

"Não poderias saber nada de mais absoluto sobre ela, a não ser ela própria. Fazendo perguntas, tu ouvirias respostas. Nas respostas ela poderia mentir, dissimular, e a realidade que estava sendo, a realidade que agora era, seria quebrada. pois, não fazendo perguntas, tu aceitarias a moça completamente. Desconhecida, ela seria mais completa que todo um inventário sobre o seu passado. Descobririas que as coisas e as pessoas só o são em totalidade quando não existem perguntas, ou quando essas perguntas não são feitas. Que a maneira mais absoluta de aceitar alguém ou alguma coisa seria justamente não falar, não perguntar - mas ver! Em silêncio."

"Quando desliguei o telefone pra lá das 04:00 horas da manhã, eu disse que sonharia com você, apenas pela certeza de que sua imagem linda, clara, fascinante, jamais sairia da minha cabeça… Ao me deitar eu estava pensando em ti, eu não sei se é sonho, eu não sei mesmo o que acontece, mas eu te sinto sempre, até enquanto durmo, sinto seu toque, sua voz, seu sorriso. Sinto e vejo tudo, meu misto de sonho e realidade, por que demorou tanto pra chegar? Eu guardei um sonho bom pra ti, essa noite toda, foi perfeita, eu estive com você, da forma mais incrível, toquei seu coração, te dei o meu, e recebi o seu."

“Que seja doce o dia quando eu abrir as janelas e lembrar de você. Que sejam doce os finais de tardes, inclusive os de segunda-feira - quando começa a contagem regressiva para o final de semana chegar. Que seja doce a espera pelas mensagens, ligações e recadinhos bonitinhos. Que seja (mais do que) doce a voz ao falar no telefone. Que seja doce o seu cheiro. Que seja doce o seu jeito, seus olhares, seu receio. Que seja doce o seu modo de andar, de sentir, de demonstrar afeto. Que sejam doce suas expressões faciais, até o levantar de sobrancelha. Que seja doce a leveza que eu sentirei ao seu lado. Que seja doce a ausência do meu medo. Que seja doce o seu abraço. Que seja doce o modo como você irá segurar na minha mão. Que seja doce. Que sejamos doce.”

Caio Fernando Abreu.
-

“Porque pra te amar mais, eu tenho que te amar menos. Porque pra morrer de amor por você, eu tive que não morrer. Porque pra ter você por perto um pouco, eu tive que não querer mais ter você por perto pra sempre. E eu soquei meu coração até ele diminuir. Só pra você nunca se assustar com o tamanho.”
Tati Bernardi.

sábado, 24 de julho de 2010

Poema

Poema

Composição: Cazuza / Frejat

Eu hoje tive um pesadelo
E levantei atento, a tempo
Eu acordei com medo
E procurei no escuro
Alguém com o seu carinho
E lembrei de um tempo
Porque o passado me traz uma lembrança
Do tempo que eu era ainda criança
E o medo era motivo de choro
Desculpa pra um abraço ou consolo
Hoje eu acordei com medo
Mas não chorei, nem reclamei abrigo
Do escuro, eu via o infinito
Sem presente, passado ou futuro
Senti um abraço forte, já não era medo
Era uma coisa sua que ficou em mim
E que não tem fim
De repente, a gente vê que perdeu
Ou está perdendo alguma coisa
Morna e ingênua que vai ficando no caminho
Que é escuro e frio, mas também bonito porque é iluminado
Pela beleza do que aconteceu há minutos atrás

sábado, 17 de julho de 2010

Ideologia, eu quero uma também.


Ninguém o definiu melhor do que ele mesmo. Nem de forma mais sintética, numa palavra só – exagerado. Era vida demais, lucidez demais, sensibilidade demais. Tudo filtrado pelo alento, que também era um excesso. Quando partiu, aos 32 anos, depois de passar pela musica brasileira feito um cometa perturbador de camadas adormecidas, Cazuza conseguira vários milagres. Fundiu o rock à MPB, integrando definitivamente a guitarra elétrica à cuíca, aproximando Cartola de Lou Reed, Nelson Cavaquinho de Janis Joplin; mostrou, em letras como as de “Brasil” ou “Ideologia”, que o delicado e subjetivo poeta de “Codinome Beija-Flor” podia também ser um sarcástico critico social. Atrás da rebeldia e do gosto pelo tratamento de choque nos bem-pensantes, uma ânsia única e simples: beber, de todas as maneiras, todo amor que pudesse haver nesta vida. Agenor de Miranda Araújo Neto, seu pomposo nome verdadeiro, positivamente não combinaria com ele. Dentro do garoto que gostava de imitar Maria Bethânia em cima da mesa da sala, um cabo de vassoura fingindo de microfone, o moleque Cazuza já estava escondido. E começou a vir à tona em 1981 quando, junto com Frejat, fundou o Barão Vermelho. Foram três discos com o grupo, até 1985. Partindo para a carreira solo, então, nos cinco anos seguintes que lhe restavam de vida terrena e criação, em suas canções e seu comportamento, Cazuza traria uma dilacerada contemporaneidade para estas terras ao sul do Equador. Ninguém como ele, à sua maneira tropical – transitório, eterno e príncipe maldito como Jim Morrison –, refletiria tão precisamente sua geração e seu tempo. Cada vez mais acelerado, com menos tempo a perder com aquilo que não fosse profundamente verdadeiro, embora doloroso, o poeta Cazuza evoluiu das letras românticas ou atrevidas para ouras mais pungentes, capazes de concentrar toda a condição humana. A voz cada vez mais rouca, quem sabe pela consciência de não passar de uma cobaia nas mãos de um Deus talvez cruel, finalmente pediu piedade para a gente careta e covarde que não conseguira calá-lo. Tudo que era fúria, virou também amor. E o que foi sombra, transformou-se em luz. Espelho dos nossos infernos e paraísos mais comuns, e mais secretos, Cazuza partiu cedo. Mas só aparentemente, porque no redondo completo de sua trajetória, ferido em pleno vôo, provou o que uma de suas escritoras preferidas, Clarice Lispector, gostava de repetir - "as grandes sensibilidades nunca passam impunes". Além do brilho incomum de sua obra poética e musical, deixou ao Brasil outras lições ainda mais fundamentais. Integridade, dignidade. Pois afinal, dizer coisas sérias ao mesmo tempo em que se divertia como um doido, também fazia parte do seu show...

(Por Caio Fernando Abreu)
- Não quero lembrar. Faz mal lembrar das coisas que se foram e não voltam. No começo fiquei com raiva, achei que ela não pensou em mais ninguém quando desapareceu. Só nela mesma. Mas a gente nunca pode julgar o que acontece dentro dos outros. Ela queria outra coisa.


- Que coisa?

- Nem ela sabia. Repetia isso o dia inteiro: "Quero outra coisa, eu quero encontrar outra coisa".
 
Caio Fernando Abreu
 
 
 
(Porque o importante é só sabermos aquilo que não queremos.)

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Tênis x Frescobol

Depois de muito meditar sobre o assunto concluí que os casamentos são de dois tipos: há os casamentos do tipo tênis e há os casamentos do tipo frescobol. Os casamentos do tipo tênis são uma fonte de raiva e ressentimentos e terminam sempre mal. Os casamentos do tipo frescobol são uma fonte de alegria e têm a chance de ter vida longa.

Explico-me. Para começar, uma afirmação de Nietzsche, com a qual concordo inteiramente. Dizia ele: ‘Ao pensar sobre a possibilidade do casamento cada um deveria se fazer a seguinte pergunta: ‘Você crê que seria capaz de conversar com prazer com esta pessoa até a sua velhice?\' Tudo o mais no casamento é transitório, mas as relações que desafiam o tempo são aquelas construídas sobre a arte de conversar.’

Xerazade sabia disso. Sabia que os casamentos baseados nos prazeres da cama são sempre decapitados pela manhã, terminam em separação, pois os prazeres do sexo se esgotam rapidamente, terminam na morte, como no filme O império dos sentidos. Por isso, quando o sexo já estava morto na cama, e o amor não mais se podia dizer através dele, ela o ressuscitava pela magia da palavra: começava uma longa conversa, conversa sem fim, que deveria durar mil e uma noites. O sultão se calava e escutava as suas palavras como se fossem música. A música dos sons ou da palavra - é a sexualidade sob a forma da eternidade: é o amor que ressuscita sempre, depois de morrer. Há os carinhos que se fazem com o corpo e há os carinhos que se fazem com as palavras. E contrariamente ao que pensam os amantes inexperientes, fazer carinho com as palavras não é ficar repetindo o tempo todo: ‘Eu te amo, eu te amo...’ Barthes advertia: ‘Passada a primeira confissão, ‘eu te amo\' não quer dizer mais nada.’ É na conversa que o nosso verdadeiro corpo se mostra, não em sua nudez anatômica, mas em sua nudez poética. Recordo a sabedoria de Adélia Prado: ‘Erótica é a alma.’

O tênis é um jogo feroz. O seu objetivo é derrotar o adversário. E a sua derrota se revela no seu erro: o outro foi incapaz de devolver a bola. Joga-se tênis para fazer o outro errar. O bom jogador é aquele que tem a exata noção do ponto fraco do seu adversário, e é justamente para aí que ele vai dirigir a sua cortada - palavra muito sugestiva, que indica o seu objetivo sádico, que é o de cortar, interromper, derrotar. O prazer do tênis se encontra, portanto, justamente no momento em que o jogo não pode mais continuar porque o adversário foi colocado fora de jogo. Termina sempre com a alegria de um e a tristeza de outro.

O frescobol se parece muito com o tênis: dois jogadores, duas raquetes e uma bola. Só que, para o jogo ser bom, é preciso que nenhum dos dois perca. Se a bola veio meio torta, a gente sabe que não foi de propósito e faz o maior esforço do mundo para devolvê-la gostosa, no lugar certo, para que o outro possa pegá-la. Não existe adversário porque não há ninguém a ser derrotado. Aqui ou os dois ganham ou ninguém ganha. E ninguém fica feliz quando o outro erra - pois o que se deseja é que ninguém erre. O erro de um, no frescobol, é como ejaculação precoce: um acidente lamentável que não deveria ter acontecido, pois o gostoso mesmo é aquele ir e vir, ir e vir, ir e vir... E o que errou pede desculpas; e o que provocou o erro se sente culpado. Mas não tem importância: começa-se de novo este delicioso jogo em que ninguém marca pontos...

A bola: são as nossas fantasias, irrealidades, sonhos sob a forma de palavras. Conversar é ficar batendo sonho pra lá, sonho pra cá...

Mas há casais que jogam com os sonhos como se jogassem tênis. Ficam à espera do momento certo para a cortada. Camus anotava no seu diário pequenos fragmentos para os livros que pretendia escrever. Um deles, que se encontra nos Primeiros cadernos, é sobre este jogo de tênis:
‘Cena: o marido, a mulher, a galeria. O primeiro tem valor e gosta de brilhar. A segunda guarda silêncio, mas, com pequenas frases secas, destrói todos os propósitos do caro esposo. Desta forma marca constantemente a sua superioridade. O outro domina-se, mas sofre uma humilhação e é assim que nasce o ódio. Exemplo: com um sorriso: ‘Não se faça mais estúpido do que é, meu amigo\'. A galeria torce e sorri pouco à vontade. Ele cora, aproxima-se dela, beija-lhe a mão suspirando: ‘Tens razão, minha querida\'. A situação está salva e o ódio vai aumentando.’

Tênis é assim: recebe-se o sonho do outro para destruí-lo, arrebentá-lo, como bolha de sabão... O que se busca é ter razão e o que se ganha é o distanciamento. Aqui, quem ganha sempre perde.

Já no frescobol é diferente: o sonho do outro é um brinquedo que deve ser preservado, pois se sabe que, se é sonho, é coisa delicada, do coração. O bom ouvinte é aquele que, ao falar, abre espaços para que as bolhas de sabão do outro voem livres. Bola vai, bola vem - cresce o amor... Ninguém ganha para que os dois ganhem. E se deseja então que o outro viva sempre, eternamente, para que o jogo nunca tenha fim...(O retorno e terno, p. 51.)

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Quando a nossa dor vira nada.

"Escuta aqui, cara, tua dor não me importa.
Estou cagando montes pras tuas memórias, pras tuas culpas, pras tuas saudades.
As pessoas estão enlouquecendo, sendo presas, indo para o exílio, morrendo de overdose e você fica aí pelos cantos choramingando o seu amor perdido.
Foda-se o seu amor perdido.
Foda-se esse rei-ego absoluto.
Foda-se a sua dor pessoal, esse seu ovo mesquinho e fechado."

sexta-feira, 9 de julho de 2010

Sintonia errada.

"Na maioria das vezes não saímos do lugar porque nosso coração está sintonizado na freqüência errada. Está roubando energia do motor por insistirmos que vozes distantes continuem falando o que não precisamos ouvir."

P.S.: Você sempre tem a oportunidade de fazer as coisas darem certo.

Difícil saber.

“Ou poderíamos ser apenas o que somos, duas pessoas com uma ligação estranha, sutilezas e asperezas subentendidas, possibilidades de surpresas boas. Ou não. Difícil saber. Bato minhas asas em retirada. E me pergunto se, quem sabe um dia, na hora certa, nosso encontro pode acontecer inteiro.”
Caio Fernando Abreu.

Uns bobos.

“Mas, como eu no fundo sou um cavalheiro à moda antiga, não me aproveitei dela e me conformei com um casto beijo na bochecha. Porque não estou com pressa, sabe?A espera aumenta o desejo. Tem uns bobalhões por ai que acham que, se põem a mão na bunda de uma mulher e ela não reclama, já está no papo. Aprendizes. O coração da mulher é um labirinto de sutilezas que desafia a mente grosseira do homem trapaceiro. Para realmente possuir uma mulher, é preciso pensar como ela, e a primeira coisa a fazer é ganhar sua alma. O resto, doce e fofo embrulho que nos faz perder os sentidos e a virtude, vêm por acréscimo.”
Carlos Ruiz Zafón.

Antimephistos.



“Sou mais uma loucura no mundo, e essa normalidade vendida não me compra.”
Clarice Lispector.

love yourself.

“Me cobrou um amor, que no momento eu só posso sentir por mim… Meu amor próprio, é tão grande que não cabe você.”
Caio Fernando Abreu.

Mário Quintana

“A noite acendeu as estrelas porque tinha medo da própria escuridão.”
- Mário Quintana.

Ou não?!

“As mãos que dizem adeus
São pássaros que vão morrendo lentamente.”

Mário Quintana